Última alteração: 2016-10-03
Resumo
O presente estudo busca entender o jornalismo literário, sua relação com o Novo Jornalismo e sua realidade atual - o livro-reportagem - a partir de práticas discursivas que registram o surgimento e algumas transformações que influenciaram os modos como a narrativa literária se torna pauta e agenda do cotidiano na produção jornalística.
O que se pretende, com essa rápida contextualização histórica, é situar o fortalecimento do fazer jornalístico no campo literário na perspectiva da sociedade moderna, onde os produtos ou atividades culturais passam a contar com interesses públicos, adquirindo, por isso mesmo, maior penetração na vida social.
É oportuno lembrar, mesmo que rapidamente, que a partir do momento em que os jornais encontram-se em franca proliferação aumenta também a demanda pela apreciação e consumo de literatura. Esse processo só vai acontecer no Brasil — ainda que de forma mais lenta, devido ao alto índice de analfabetismo, baixa concentração urbana e demais aspectos socioeconômicos e culturais — a partir do século XIX, tendo como marco a vinda da família real em 1808.
Na prática, em termos urbanos e públicos, só vai ser possível falar em consumo e crítica cultural bem mais tarde. Ou, para ser mais exato, a partir da última década daquele século, e de modo mais significativo, a partir dos anos 1930.
Não se trata, portanto, de construir uma história do jornalismo literário ou do Novo Jornalismo, ou ainda do livro-reportagem, mas destacar momentos importantes em que produções, fatos e situações jornalísticas/literárias passam a ocupar as páginas dos impressos, e posteriormente, dos livros, em forma de reportagens, pelo interesse, tematização e agendamento público. O dois primeiros capítulos apresentam o Nono Jornalismo, mas não o define, Destacam autores, críticos e publicações que situam o estilo que tem forma similar à literatura, estruturando-se numa forma de relato narrativo. A diferença básica é que , enquanto na literatura o fio condutor da narrativa vai se desempenhando na imaginação do leitor, no Novo Jornalismo a informação dos acontecimentos é que vai realizar este papel. A proposta nos dois primeiros capítulos, mais do que discutir as fundamentações teóricas do rótulo em questão, é servir de apresentador do tema, para que o leitor perceba o estilo e tire suas próprias conclusões da reportagem que segue. O terceiro capítulo apresenta o resultado de pesquisa histórica e jornalística. O estilo narrativo da reportagem acontece de forma objetiva e, eventualmente, permite a inclusão do narrador. O uso da descrição como forma de construir uma imagem mental do fato narrado tenta estabelecer uma empatia emocional com om leitor. A narrativa mergulha no universo da reportagem, buscando reconstruir ba cena, oas atos, os gestos, o comportamento, as características físicas e psíquicas dos personagens. A narrativa, sempre que possível, busca apresentar de uma maneira descontraída, personagens imortalizados como nome de bairros, vias, praças que, de alguma forma contribuíram para que a cidade de Ubá, Minas Gerais, fosse o que é. Esse capítulo “Pequena enciclopédia de Logradouros \Públicos Ubaenses”, foi escrito, principalmente, para redescobrir parte da a história da cidade de Ubá, numa tentativa de busca da realidade sem deixar de lado as impressões de quem escreve. È certo que a maior parte dos fatos que marcaram a história da cidade em questão não pode (nem deve) estar em uma dissertação de Comunicação Social. A tentativa deste estudo é a de valorizar a criação literária, não como ferramenta do jornalismo, mas também, como instrumento de informação.
Diante de uma realidade em que as relações entre o jornalismo e literatura são múltiplas e extremamente variadas, o convívio entre eles se torna cada vez mais necessário. Jornalismo e Literatura são ferramentas interessantes para melhorar a qualidade de vida de uma sociedade. Não se separam, se completam. São forças que mudam o mundo, criam e vencem guerras, frustram e alimentam sonhos, salvam e destroem vidas.
A pesquisa deixa de ser um simples relato para se transformar num texto literário, que reconstrói os acontecimentos a partir da interpretação do autor. Abandonando alguns dogmas do jornalismo, como neutralidade e distanciamento, valoriza a figura do repórter no meio dos acontecimentos, dando a ele liberdade para criar e ousar a partir do registro de detalhes como gestos, hábitos, decoração, vestuário, etc. Os personagens e cenários das matérias se estabelecem com um foco bastante pessoal, com abertura para experimentos de estilo.
As Considerações Finais buscam provocar uma reflexão: será que o desenvolvimento da autonomia interpretativa do jornalismo pode ser considerado como uma nova ordem no papel da imprensa nas sociedade democráticas de nosso tempo?
Todo mundo conhece a frase atribuída ao jornalista Heródoto Barbeiro: “Jornalismo é separar o joio de trigo e publicar o trigo”. Quando ele se mistura com literatura descobrimos que não há nada melhor do que explicar o joio, entender o trigo e oferecer o pão. É esse o olhar que pauta o estudo que segue.