Última alteração: 2020-12-08
Resumo
Relatório de estágio supervisionado concentrado da acadêmica de Psicologia Créscia Aparecida Furtado Lima, discente do 10º período sob supervisão do professor Bruno Feital Barbosa Motta.
Este relatório abrange o período de 05/03/2020 a 30/11/2020 com carga horária total de 68 horas e ocorreu no formato presencial, na 2º Delegacia Regional de Polícia Civil.
Objetivo do estágio: Realizar acolhimentos com mulheres vítimas de violência doméstica que buscam medidas protetivas contra seus agressores.
Público alvo: Destinado às vítimas de violência doméstica.
Práticas, procedimentos e Intervenções:
O presente estágio era realizado uma vez por semana, com plantões de quatro horas por dia.
Buscamos acolher e orientar cada uma dessas mulheres, que nos procuram em um momento tão difícil e com isso, buscamos redes de apoio para outras questões que ficaram claras durante o acolhimento.
Depois que a mulher denuncia o agressor e busca ajuda para sair do relacionamento abusivo, nos preocupamos em oferecer as condições necessárias para que elas possam restabelecer seu equilíbrio mental e emocional, e seguir uma nova vida sem violência
Algumas vítimas apresentam dificuldade de sair de casa, por serem sustentadas pelos seus agressores, por terem filhos menores, por não terem para onde ir ou quem possam as ajudar nessas situações.
Muitas mulheres acabam voltando para o agressor não por masoquismo ou loucura. Sem saúde, educação, trabalho e habitação uma alternativa não resta à mulher e sua prole, senão buscar um teto junto do agressor, o carrasco provedor. Prorrogando-se sua humilhação e sofrimento, muitas vezes perpetuamente.
Fica evidente que a violência doméstica tem se transformado numa forma cada vez mais brutal de violência contra a mulher, mesmo que esta já possa contar com atendimento especializado.
A condição de violência é, antes de tudo, uma questão de violação dos direitos humanos. Pode estar associada a problemas variados, complexos e de natureza distinta. Também pode estar atrelada a questões conceituais referentes à distinção entre: poder e coação; vontade consciente e impulso; determinismo e liberdade. A violência contra a mulher é um fenômeno multicausal, multidimensional, multifacetado e intransparente (Pequeno, 2007).
A violência doméstica contra a mulher atinge repercussões em vários aspectos da sua vida, no trabalho, nas relações sociais e na saúde (física e psicológica). Segundo o Banco Mundial (Ribeiro & Coutinho, 2011), um em cada cinco dias de falta ao trabalho é causado pela violência sofrida pelas mulheres dentro de suas casas; a cada cinco anos, a mulher perde um ano de vida saudável se ela sofre violência doméstica; na América Latina, a violência doméstica atinge entre 25% a 50% das mulheres; uma mulher que sofre violência doméstica geralmente ganha menos do que aquela que não vive em situação de violência; estima-se que o custo da violência doméstica oscila entre 1,6% e 2% do PIB de um país, fatos esses que demonstram que a violência contra a mulher sai do âmbito familiar e atinge a sociedade como um todo, configurando-se em fator que desestrutura o tecido social.
De acordo com Soares (2004), muitas vezes uma mulher em situação de violência se sente especialmente amedrontada e envergonhada por não conseguir se fazer ouvir e respeitar por seu agressor, gerando sentimento de impotência. A maneira como suas reações são manifestas advém da própria relação com o companheiro. Neste estudo, as principais manifestações apresentadas foram de passividade, vergonha, decepção, culpa e sofrimento. E, dentre essas, notou-se a decepção como mais frequente. Muitas mulheres simbolizam a imagem do casamento perfeito e feliz em seus sonhos, com a esperança constantemente renovada de que o agressor vai mudar, que as coisas vão melhorar e que "tudo um dia vai passar como num passe de mágica", sentimento esse que também é, segundo elas, frequentemente desfeito pelas decepções em contato com a realidade do comportamento do companheiro. Perdura no relacionamento o misto de esperança e decepção, fazendo com que o desgaste se acentue.
As "violências domésticas" ocorrem no âmbito familiar ou doméstico, entre quaisquer dos membros da família. Destaca-se o fato de esse tipo de violência estar sendo, aqui, referido no plural, por se tratar de diversas formas de violência que podem ocorrer nesse espaço. Dentre os possíveis agressores, estão: maridos, amásios, amantes, namorados atuais, ou, até, ex-namorados ou ex-cônjuges.
Conforme afirma Caravantes (2000, p.229), a violência intrafamiliar pode ser compreendida como qualquer ação ou omissão que resulte em dano físico, sexual, emocional, social ou patrimonial de um ser humano, onde exista vínculo familiar e íntimo entre a vítima e seu agressor.
Por conta disso, nós como psicólogos, devemos buscar direcionar um olhar atento que possibilite à pessoa se identificar como vítima ou ter condições de perceber a violência ainda em estágio inicial. Prestar um atendimento respeitoso, de modo a contribuir para que a vítima possa se expressar livremente, o que facilitará a clara exposição dos fatos, tendo como consequência o entendimento da dinâmica da violência e a maior chance de solução da situação.
Devido a devastação da autoestima pela qual a vítima passa, o psicólogo tem condições de propiciar o resgate dela, uma vez que oportuniza um espaço de escuta e de valorização da pessoa como um todo.
Buscar as consequências da violência pregressa nas vítimas que estão sendo revitimizadas, ou nos transgressores da violência, pode auxiliar o profissional a encontrar saídas para as dificuldades da vítima. Buscar fortalecer a mulher agredida.
Por isso, podemos questionar o porquê ainda apostamos em um sistema punitivo? Desconstruir a forma com a qual tratamos as pessoas violentas, dentro de um poder autoritário e alto conservador, exige uma reflexão intensa sobre como nos organizamos como sociedade. Buscar trabalhar mais com a Justiça Restaurativa, fazer acontecer, tentar mediar os conflitos, dar assistências não só as vítimas, mas a todas as pessoas envolvidas nessas situações.
Referências Bibliográficas:
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