Última alteração: 2020-12-01
Resumo
Relatório de estágio supervisionado básico da acadêmica de psicologia Rafaela Netto Faria, discente do 6° período sob supervisão do Professor Jefte Moraes Souza.
Este relatório abrange o período de 10 de agosto 2020 a 30 de novembro de 2020, com carga horária total de 60 horas e ocorreu de no formato remoto.
Objetivo do Estágio: O estágio realizado teve como principal objetivo criar um espaço voltado unicamente para mulheres, para discutir, debater e ponderar sobre temáticas que envolvem o “ser mulher”. Além disso, teve-se como finalidade também, construir um espaço onde essas mulheres sentissem liberdade para fazer questionamentos e relatos sobre sua vida, formando assim, um grupo de apoio e acolhimento a mulheres.
Público alvo: O público alvo do estágio, foi exclusivamente o público feminino, com idade superior a 18 anos.
Práticas, procedimentos e Intervenções: O estágio se constituiu com reuniões semanais que tinham duração de uma hora cada, em modo remoto por meio da plataforma digital google meet. As reuniões foram conduzidas por um grupo de 4 alunas do curso de psicologia e orientadas pelo professor de saúde mental. Como o projeto foi realizado remotamente, foi criado uma página nas redes sociais onde colocou-se informações de acesso e sobre o trabalho, ela era alimentada frequentemente com publicações sobre temas que forá discutidos nas reuniões.
No primeiro encontro, pela recente divulgação, não houve nenhuma participante, assim, esse encontro serviu para que o grupo que criou o projeto discutir os meios a serem usados e a metodologia a ser estudada. Para o segundo encontro foi preparado uma dinâmica para familiarização e interação entre as participantes, a realização dessa atividade é importante pois como afirma Pichon (1980) é através das interações que ocorrem no grupo que este se elabora, solidifica-se. Nesta dinâmica executada, cada participante teve que dar características positivas com a primeira letra de seu nome para si própria. Esta atividade, como relatado pelas próprias participantes, foi um tanto quanto desafiadora, pois segundo fala das mesmas é muito difícil falar de qualidades próprias.
Após esta dinâmica, foi feita uma introdução ao grupo pautada em questionamentos sobre o papel da mulher no século XXI e como as vivências do dia a dia interferem na sua saúde mental, as respostas obtidas foram quase que todas alegando uma grande pressão da sociedade sobre as mulheres, partindo de pressupostos e ideias patriarcais e dizendo sobre como ser mulher ainda é sinônimo de correr perigos na atualidade. Com o andamento da reunião, o tema foi se encaminhado para o lugar do feminismo e qual os benefícios dele para as mulheres, as participantes levantaram a questão que neste movimento há grandes vantagens, como a participação dele nos direitos reconhecidos e na ajuda para a desconstrução opressora e sexista da mulher, benefícios já apontados por Hooks (2001). Mas para as integrantes, ele também traz alguns extremismos principalmente por parte de seus componentes, com esta indagação encerramos a primeira reunião deixando como tema da próxima as vertentes do feminismo.
No terceiro encontro continuou a ser discutido a questão do feminismo e de início se fez necessário diferenciar feminismo de femismo para maior conceituação, após essa diferenciação a conversa voltou aos tipos de feminismo existentes, isso foi trazida pelas participantes e a partir deste ponto elas começaram a relatar sobre suas experiencias com ele, uma das integrantes relatou que ele foi um divisor de águas no amadurecimento de sua personalidade e de seu senso crítico, afirmou ainda que ele é muito importante pois ele que deu impulso na criação de leis que protegem a mulher na atualidade, dando exemplo da lei Maria Da Penha. Ao citar essa lei a conversa entrou no âmbito referente a violência e abuso contra mulher e seus direitos, como já feito em outra reunião, foi deixado essa pauto para o outro encontro.
O quarto encontro, assim como o primeiro, foi atípico, pois nenhuma integrante apareceu por motivos desconhecidos, mas o encontro serviu para que as percursoras do projeto afinassem as ideias para os próximos encontros e conseguissem fazer um balanço sobre tudo que foi discutido até aquele momento.
Pode-se afirmar que foi no quinto encontro que a reunião se consolidou como um grupo de apoio. Ao abordar a questão de violência e abuso, várias participantes se sentiram confortáveis e expuseram casos de relacionamentos abusivos e agressões vivenciados. A primeira a relatar, alegou que o relacionamento abusivo se deu de forma velada, constituída por falas machistas e pequenas proibições, ela afirma ainda que chegou em um nível de abuso tão sério que houve até mesmo uma tentativa de agressão, mas que após esse episódio e com ajuda terapêutica, ela foi se livrando desse relacionamento, mas que as sequelas ainda persistem em seu comportamento, afirmação esta que é sustentada por Monteiro & Souza (2007) ao alegar que as violências sofridas podem gerar significativas em sua saúde física e mental.
Vale ressaltar que como coloca Pequeno (2007), a violência contra a mulher é um fenômeno multicausal, multidimensional, multifacetado e transparente, essa afirmação deu base a fala da segunda integrante a relatar. Esta por sua vez, disse não ter um vasto grupo de amigos e que quase que todo tempo que tinha era passado com seu companheiro, mas que isso não foi suficiente para suas desconfianças e crises de ciúmes que eram constantes. A outra participante a relatar disse não ter vivido relacionamento abusivo, mas que seu namorado tinha falas machistas e tentava controlar as vestes desta.
O último e talvez mais forte relato veio de uma participante ao compartilhou com o grupo que o seu antigo parceiro sempre se mostrou “meio” abusivo, mas ele fornecia a ela proteção e uma vida estável, e que por esse motivo ela não se incomodava com esse fator. Expos ainda que após cerca de 3 anos juntos, ela começou a se incomodar com o comportamento possessivo do namorado, mas que estava tão envolvida na relação que não conseguia sair, mas que após uma briga intensa, seu parceiro literalmente a chicoteou com um fio de telefone a ponto de causar sérios machucados, mas segundo suas afirmações, ele se arrependeu e cuidou dela, motivo esse que a fez não separar dele. Ela conta ainda que após alguns meses, ele ficou com ciúmes de um telefonema ele a agrediu no rosto, e que em um momento de fúria, revidou utilizando uma tesoura e que, depois dessa ação ela rompeu laços definitivos com o seu parceiro.
As demais integrantes afirmaram não ter vivido um relacionamento abusivo, mas todas disseram conhecer alguém que já sofreu. A partir dessas exposições, para o último encontro ficou de discutir os direitos das mulheres, e discutindo os direitos e leis que asseguram as mulheres a reunião e o estágio foi finalizado.
Competências e habilidades: O estágio serviu para familiarizarmos com os grupos de apoio. Além disso, serviu como prática para coordenar e manejar processos grupais, considerando as diferenças individuais e socioculturais dos seus membros e relacionar-se com o outro de modo a propiciar o desenvolvimento de vínculos interpessoais requeridos na sua atuação profissional. E por último, para conhecermos e termos a pratica de trabalhar com demandas que surgem com o processo de acolhimento.
Referências bibliográficas usadas como suporte:
Fonseca, D. H., Ribeiro, C. G., & Leal, N. S. B. (2012). Violência doméstica contra a mulher: realidades e representações sociais. Psicologia & Sociedade, 24(2), 307-314.
HOOKS, Bell. Feminism is for everybody: passionate politics. Cambridge, MA: Pluto Press, 2000.
Monteiro, C. F. S. & Souza, I. E. O. (2007). Vivência da violência conjugal: fatos do cotidiano. Psicologia & Sociedade, 16(1), 26-31.
Pequeno, M. J. P. (2007). Direitos Humanos e Violência. Acesso em 08 de junho, 2010, em http: //www.colegiointegral.com. br/EM/AULAS/2ano/SOC-violencia.ppt
PICHON RIVIERE, E. El processo grupal – del psicoanalisis a la psicologia social. 5ª Ed. Buenos Aires. Ed. Nueva Vision. 1980.