Última alteração: 2018-10-10
Resumo
Introdução: A Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS se tornou oficialmente a segunda língua brasileira segundo a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, e em 2005, o Decreto 5.626, tornou obrigatório o ensino de LIBRAS a cursos superiores. Entretanto, este documento não foi criado unicamente com este intuito, ele provê ainda que as pessoas surdas devem ser atendidas no Sistema Único de Saúde tendo suas necessidades respeitadas e acolhidas, logo, deve haver inserção de profissionais habilitados a compreender o paciente surdo. Sobretudo para a saúde, a comunicação é um ponto importante, pois é através dela que há a possibilidade de relatar as morbidades e estabelecer confiança para um seguimento adequado, ou seja, a comunicação é um ponto crucial no estabelecimento, desde o primeiro momento, da relação médico-paciente, a qual é a grande responsável pela integração entre a prescrição feita pelo médico e adesão feita pelo paciente culminando num bom resultado. Objetivo: O presente ensaio visa pontuar como o não aprendizado da Língua Brasileira de Sinais pode afetar negativamente na relação médico-paciente, e assim na saúde do paciente surdo. Metodologia: O método de pesquisa se baseia na revisão bibliográfica de artigos publicados nas datas base: Scielo e PubMed. Para o primeiro utilizou-se as palavras-chave: “relação médico-paciente” e “surdo”, para o segundo utilizou-se “relationship doctor-patient” e “deaf needs”. Assim, selecionou-se artigos e devido à escassez do assunto em artigos gratuitos e disponíveis totalmente, o limite mínimo de anos não foi selecionado. Resultados e discussão: Após a análise dos artigos, a primeira grande barreira demonstrada tanto no Brasil quanto em outros países foi a dificuldade de compreensão, tanto no quesito Língua de Sinais, por parte do médico, quanto no quesito termos médicos, visto que a o letramento em saúde na população surda é menor que 20%. Entretanto, embora este dado seja semelhante ao da população em geral, o fato de o profissional de saúde ter baixo conhecimento da Língua dos Sinais e por isso não conseguir explicar o termo específico de forma simplificada, como é feito para a população ouvinte leiga, prejudica a compreensão do surdo. Essa falha na compreensão leva o paciente a sentir-se frustrado e assustado, logo, ele passa a evitar procurar serviços de saúde, sobretudo sozinho, conforme observou Chaveiro (2009) em seu estudo. Outro ponto de frustração e barreira para o relacionamento médico-paciente é o desrespeito ou desconhecimento da cultura surda e de sua identidade, visto que nem todos os surdos conseguem, querem ou sabem oralizar. Ademais, poucos sabem que para o surdo brasileiro, LIBRAS é a primeira língua e a Língua Portuguesa escrita a segunda, logo, ignoram a dificuldade embutida em aprender e executar um novo idioma. As consequências da não compreensão da realidade do paciente, tanto da sua cultura como da sua língua, são catastróficas. No primeiro momento, pode-se observar que com a ausência de uma comunicação fluida, intermediada ou não por um intérprete, a confiança, base da relação médico-paciente, dificilmente será estabelecida, logo, uma anamnese completa e detalhada das condições que afligem o paciente não poderá ser obtida, o que aumenta o número de diagnósticos errôneos e tratamentos ineficazes e até iatrogênicos, tudo isso contribui fortemente para destruir o laço de respeito mútuo e confiança que existe entre médico e paciente, este fato foi demonstrado tanto por estudos nacionais quanto internacionais. O médico empoderado, mesmo que não saiba a Língua Brasileira de Sinais, é capaz de utilizar outras formas, como desenhos, escrita e figuras, os quais auxiliarão no estabelecimento da confiança entre ambos, sendo estas importantes mesmo quando há intérprete, para que o paciente se sinta valorizado pelo profissional. Ressalta-se que foi muito apontado que surdos preferem ser atendidos por médicos surdos ou que utilizam a Língua Brasileira de Sinais, entretanto, a compreensão sobre as particularidades do mundo vivenciado pelo surdo auxilia positivamente no processo de aceitação, o qual precede qualquer outra etapa. Conclusão: Conclui-se que, em consonância as afirmativas explanadas, a compreensão da LIBRAS é importante para estabelecer uma boa comunicação e uma alta qualidade de atendimento ao paciente surdo, adiciona-se ainda que na ausência dessa habilidade a presença do intérprete é indispensável, visto que contribui para o acolhimento do paciente e para reduzir falhas na comunicação. A relação médico-paciente é de grande importância para o diagnóstico, tratamento e seguimento correto deste paciente, logo, deve haver esforço mútuo, do paciente e do médico, para que possam minimizar os danos que seriam causados pela falta de comunicação.