Última alteração: 2018-10-10
Resumo
Introdução: O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado com o objetivo de tornar o acesso à saúde universal no Brasil, o que é pressuposto para inclusão social. Nesse contexto, o Decreto n° 5626/2005 foi publicado visando estender esse acesso à população surda. Contudo, denota-se uma insuficiência dos serviços de saúde em transpor os obstáculos a um atendimento integral, de qualidade e resolutivo aos 9,7 milhões de deficientes auditivos no país (IBGE, 2010). Apesar de grande em número, trata-se de um grupo que é marginalizado nos serviços de saúde e vê-se incapaz de ultrapassar, principalmente, barreiras comunicacionais durante um atendimento médico, por vezes, devido a uma falta de conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) pelo profissional de saúde. Assim, o principal elo da relação entre profissional e o paciente não se constrói, e o surdo acaba por encontrar-se em uma situação de não resolubilidade de suas questões, o que pode levá-lo inclusive a deixar de procurar os serviços de saúde. Objetivo: O presente ensaio visa discorrer sobre a insuficiência do serviço médico prestado à população surda de modo a atestar a importância do conhecimento da LIBRAS para um atendimento de qualidade e resolutivo. Metodologia: O método de pesquisa se baseia na revisão bibliográfica de estudos acerca do conhecimento da LIBRAS por profissionais de saúde e da percepção dos surdos no que diz respeito ao atendimento em saúde ao qual têm acesso. Discussão: Os serviços de saúde, de acordo com o Decreto 5626, são obrigados a organizar-se para dispor de meios para o atendimento à comunidade surda, incluindo a presença de intérpretes da LIBRAS e/ou profissionais de saúde com conhecimento da mesma. Porém, na grande maioria das vezes não há esse intérprete no estabelecimento de saúde para que haja o atendimento do surdo, qualificando-se, assim, o principal desafio à assistência em saúde para esse indivíduo, que é a barreira comunicacional. Além disso, existe o desconhecimento pela equipe médica da peculiaridade da LIBRAS e da sua diferença da modalidade oral-auditiva à qual pertence a Língua Portuguesa. O surdo é fluente em LIBRAS e não necessariamente em Língua Portuguesa. Dessa forma, comunicar-se por meio escrito muitas vezes não é efetivo. Assim, o paciente surdo sempre irá necessitar da presença de um intérprete, encargo de um familiar ou amigo, no decorrer do atendimento, no qual informações particulares do paciente virão à tona, rompendo com o princípio da confidencialidade da relação profissional-paciente. Ainda devido à essa dificuldade do estabelecimento da comunicação, destaca-se um baixo conhecimento sobre saúde da população surda, pois todo seu acesso à saúde é feito por intermédio de terceiros. Tal falta de sensibilidade dos serviços de saúde e dos profissionais para atendê-los desperta nos surdos sentimentos de raiva e tristeza, diante também do descaso com o qual é conduzido o atendimento. Aquém desse fato, salienta-se que o atendimento acaba por ser direcionado ao acompanhante, que está prestando a função de intérprete, pois a comunicação se dá apenas entre este e o profissional, causando indignação, insegurança e constrangimento para o surdo. Conclusão: Portanto, é possível constatar que há um grande déficit da relação médico-paciente na assistência em saúde para o surdo devido ao entrave da comunicação. Ressalta-se, ainda, uma dificuldade na resolução das questões apresentadas pelo paciente, pois essas não serão corretamente compreendidas e interpretadas pelo profissional de saúde. O paciente surdo, assim, deixará o estabelecimento de saúde ainda apresentando dúvidas com relação às suas queixas, por conta de um despreparo da equipe médica de prestar um atendimento com uma escuta qualificada. Ou seja, apesar do que é preconizado pelo SUS, quando se trata da população surda, o acesso à saúde ainda não é um direito concretizado.