Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, Vol II (2017)

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Construções identitárias em crianças
Cristina Toledo, Wilmar Junio Carneiro Martins, Marcus Vinícius Felix Souza, Auxiliatrice Badaró

Última alteração: 2017-09-18

Resumo


O conceito de identidade pode ser definido como um conjunto de crenças e objetivos significativos que fazem parte de um sentido coerente e consistente de quem a pessoa é e de quem ela espera se tornar no futuro. É um conceito psicossocial, ou seja, faz parte de uma construção do sujeito inserido em um contexto sócio, histórico e cultural. O presente trabalho aborda questões relacionadas à construção da identidade de crianças que freqüentam um presídio na cidade de Ubá/MG com o intuito de visitarem seus pais que ali se encontram detidos. Considerando-se que este contexto não é algo muito comum na infância, buscou-se investigar como essas relações ali constituídas estão relacionadas com a construção identitária dessas crianças. O trabalho faz parte de uma ação/intervenção realizada na forma de estágio em Psicologia Social, durante o primeiro semestre de 2017. No presídio em questão existe um procedimento conhecido como visita assistida, que consiste em pessoas devidamente cadastradas irem visitar seus parentes que vem a ser assistente social e psicólogos. Nesta visita assistida, pode-se ter a presença de crianças que têm seus pais detidos. Como metodologia, utilizou-se entrevistas semi-estruturadas com o corpo técnico, sendo duas assistentes sociais e dois psicólogos. Segundo relato das entrevistadas, o índice de pessoas que após serem soltas cometem novos crimes e retornam para os presídios é bastante freqüente. Desta forma, é comum que crianças que são levadas para conhecerem seus pais na cadeia, continuam freqüentando aquele espaço após anos. Das três entrevistadas, uma concorda com a presença das crianças nas visitas, pois para ela aquele momento se constitui como espaço de construção de vínculo afetivo entre os pais e os filhos. As outras duas não concordam por acreditarem que aquele não é um espaço para crianças freqüentarem. De modo geral, elas acreditam que as crianças apresentam comportamentos que remetam à questão do crime, porém, acreditam que este comportamento está mais atrelado ao contexto social e cultural que elas vivem e não apenas às visitas. Foi relatado ainda que a maioria dos pais alegam para seus filhos que estão fora de casa por estarem trabalhando, não assumindo que estão presos e consideram que a adaptação da criança ao contexto prisional é bem tranqüilo, não demonstrando resistência das mesmas por estarem ali. Pode-se perceber que esta questão da participação das crianças nas visitas aos seus pais em um presídio é algo complexo, não havendo consenso entre as profissionais. Considerando-se que o sujeito se constitui a partir de suas relações sociais e inseridos em um contexto histórico e cultural, percebe-se que a convivência com pais que cometeram crimes faz parte da construção identitária dessas crianças, no entanto, a forma como cada uma irá se constituir é bem particular, considerando a individualidade de cada ser humano. Considera-se que as relações de afeto são de extrema importância para o desenvolvimento humano, e este pode ser construído em diversos contextos, sendo esta uma questão que vai além das condições sociais e culturais.


Palavras-chave


Identidade; infância; presídio