Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, Vol II (2017)

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Colônia Padre Damião e a relação estabelecida com a Hanseníase
Silvana Aparecida Ferreira Soares, Alexandre Augusto Macedo Correa, Jefté Moraes Souza

Última alteração: 2017-09-17

Resumo


Introdução: Os moradores da Colônia Padre Damião, trazem consigo marcas produzidas pela Hanseníase, e pela internação compulsória, que afastava e isolava os portadores da doença do convívio familiar e dos amigos. O Objetivo deste trabalho no estágio supervisionado, é realizar um levantamento das condições de vida dos ex internos da Colônia, bem como de seus descendentes, através da escuta de relatos   da comunidade  e as conseqüências do estigma na produção de subjetividades.

Metodologia: A respeito do método, trata-se  de questionário semi-estruturado e pesquisa qualitativa, o que garante uma certa flexibilidade no diálogo e coleta de informações.

Resultado: Após o levantamento de dados e escuta dos relatos vivenciados pelos moradores da Colônia, pôde-se verificar que em decorrência da doença, os mesmos ainda se vêem segregados e discriminados, fruto de uma institucionalização compulsória. O preconceito é algo que faz parte das vidas dos mesmos, e interfere inclusive no momento de  arrumar emprego. Muitos relatam encontrar portas fechadas pelo fato de residirem na localidade. A sensação de insegurança também aumentou, por conta da violência, que cresceu de uns tempos para cá e inclusive a falta de lazer para as crianças é outra queixa dos moradores.

Discussão: O preconceito é algo que os moradores da Colônia Padre Damião ainda vivenciam, sendo hansenianos ou não. O sofrimento é algo nítido e presente nos relatos, tanto por parte de quem viveu de fato a segregação do modelo isolacionista proposto à época das internações compulsórias, tanto por parte de seus descendentes que não desenvolveram a doença, mas que carregam consigo o estigma da doença, conforme afirma Basaglia (1985), “... o problema não é a doença em si (o que é, quais são suas causas, quais os prognósticos), mas  simplesmente de determinar qual tipo de relação se instaura com o doente”.As marcas não são somente físicas, cada paciente traz consigo histórias carregadas de alguns traumas dificilmente reversíveis.Ao saberem do diagnóstico,  sabiam também o que os esperava: o isolamento, a exclusão, a perda do convívio com os seus  amigos, filhos e demais familiares. Muitos no auge do desespero tentavam fugir da sina que lhes havia sido imposta,  mas não encontravam saída. O que restava era permanecer, e encontrar algo positivo nisso tudo: ajudar aos outros doentes que mais necessitavam,  ou que estavam em condições menos favoráveis.

Conclusão: Portanto, pode-se afirmar  que a relação estabelecida com a doença que desumanizava e reduzia o sujeito à própria doença, longe das necessidades que eram humanas, como o direito a sonhar, de ter afeto e opinar sobre o procedimento mais correto e justo para o tratamento, ainda hoje afeta negativamente  a autopercepção  e  a auto-estima dos moradores, interferindo na qualidade de vida dos mesmos.

 


Palavras-chave


subjetividade, preconceito, Hanseníase