Última alteração: 2017-09-17
Resumo
Introdução: Os moradores da Colônia Padre Damião, trazem consigo marcas produzidas pela Hanseníase, e pela internação compulsória, que afastava e isolava os portadores da doença do convívio familiar e dos amigos. O Objetivo deste trabalho no estágio supervisionado, é realizar um levantamento das condições de vida dos ex internos da Colônia, bem como de seus descendentes, através da escuta de relatos da comunidade e as conseqüências do estigma na produção de subjetividades.
Metodologia: A respeito do método, trata-se de questionário semi-estruturado e pesquisa qualitativa, o que garante uma certa flexibilidade no diálogo e coleta de informações.
Resultado: Após o levantamento de dados e escuta dos relatos vivenciados pelos moradores da Colônia, pôde-se verificar que em decorrência da doença, os mesmos ainda se vêem segregados e discriminados, fruto de uma institucionalização compulsória. O preconceito é algo que faz parte das vidas dos mesmos, e interfere inclusive no momento de arrumar emprego. Muitos relatam encontrar portas fechadas pelo fato de residirem na localidade. A sensação de insegurança também aumentou, por conta da violência, que cresceu de uns tempos para cá e inclusive a falta de lazer para as crianças é outra queixa dos moradores.
Discussão: O preconceito é algo que os moradores da Colônia Padre Damião ainda vivenciam, sendo hansenianos ou não. O sofrimento é algo nítido e presente nos relatos, tanto por parte de quem viveu de fato a segregação do modelo isolacionista proposto à época das internações compulsórias, tanto por parte de seus descendentes que não desenvolveram a doença, mas que carregam consigo o estigma da doença, conforme afirma Basaglia (1985), “... o problema não é a doença em si (o que é, quais são suas causas, quais os prognósticos), mas simplesmente de determinar qual tipo de relação se instaura com o doente”.As marcas não são somente físicas, cada paciente traz consigo histórias carregadas de alguns traumas dificilmente reversíveis.Ao saberem do diagnóstico, sabiam também o que os esperava: o isolamento, a exclusão, a perda do convívio com os seus amigos, filhos e demais familiares. Muitos no auge do desespero tentavam fugir da sina que lhes havia sido imposta, mas não encontravam saída. O que restava era permanecer, e encontrar algo positivo nisso tudo: ajudar aos outros doentes que mais necessitavam, ou que estavam em condições menos favoráveis.
Conclusão: Portanto, pode-se afirmar que a relação estabelecida com a doença que desumanizava e reduzia o sujeito à própria doença, longe das necessidades que eram humanas, como o direito a sonhar, de ter afeto e opinar sobre o procedimento mais correto e justo para o tratamento, ainda hoje afeta negativamente a autopercepção e a auto-estima dos moradores, interferindo na qualidade de vida dos mesmos.