Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, Vol II (2017)

Tamanho da fonte: 
Winnicot e a mãe insuficientemente boa
Leon Dutra Paiva, Nayara Rodrigues Caetano, Laís Aparecida Ribeiro, Caroline Almeida, Francesca Stephan, Jaqueline Krezefeld

Última alteração: 2017-09-16

Resumo


A Psicologia é um campo científico com uma vasta possibilidade de atuação e de muitos referenciais teóricos. Ao trabalharmos as questões da personalidade, identificamos alguns dos principais autores que trabalham o processo de formação humana. Um destes autores é Winnicott. Para o aprimoramento dos conceitos trabalhados pelo autor, objetivou-se realizar uma análise de um caso com base nas teorias winnicottianas. A finalidade do trabalho em questão é promover um ensino-aprendizagem para a conclusão da disciplina “Teorias da Personalidade”. Nesse contexto, optou-se pela pesquisa básica, que pode contribuir para resultados acadêmicos importantes sem que haja uma aplicação prática prevista. Para isto, uma revisão foi imprescindível para a aquisição de conhecimento e para a busca de evidências que contribuíram para a análise e interpretação do caso analisado. Portanto, a fim de realizar uma pesquisa básica com uma abordagem de cunho qualitativo, objetivou-se explorar o autor em questão partindo do material bibliográfico disponibilizado em sala. Chamaremos de Pedro o menino de cinco (5) anos relatado no caso, ele se passa em São Paulo (SP). Na gravidez de sua mãe, Márcia, ocorreram diversas complicações. Antes de Pedro, a mãe passou por três abortos "naturais" chegando a ter um tumor no útero. Pensou em abortá-lo ou colocá­-lo para adoção, o pai insistiu que ela tivesse o filho, mesmo estando separados. Márcia passou por dificuldades durante a gravidez, os pais de Pedro brigavam com frequência, a mãe acredita que seu filho estivesse sentindo estes conflitos, além das dificuldades por ter de enfrentar este período sozinha, sentindo uma falta de apoio do ex-marido. O parto foi de emergência, só pôde ver a criança após o seu segundo dia de nascimento. O leite da mãe secou e teve que oferecer leite industrializado, fazendo com que Pedro apresente uma espécie de alergia, tendo também uma intoxicação, sendo internado na UTI durante 72 horas. Nesta época, a mãe não conseguia se alimentar, apresentando problemas até hoje, como anorexia nervosa e diarreias. Pedro foi diagnosticado com uma má formação, na qual os pés se formaram sem as articulações. A mãe relata que este problema foi superado, Pedro apresenta dores neste local, ou um pouco atrás do joelho. Estas dores são crises esporádicas e não permanecem durante muito tempo. Segundo a mãe, acontecem em dias mais estressantes para a criança. A criança ainda usa fraldas à noite, às vezes urina e defeca sem controle. Sofre de crises de otite e gripes. Algumas vezes, apresenta um comportamento mais agressivo que o usual, que aparece de maneira repentina. Com mais frequência na escola. A mãe passa por processos judiciais com seu ex-­marido, disputando a guarda de Pedro. O pai já tentou sequestrá­-lo, segundo a mãe. Márcia não quer que seu filho tenha contato com o pai, alegando que o mesmo prejudica psiquicamente seu filho. Quando retorna da casa do Pai, Pedro fica com dificuldades em se comunicar, agressivo, sem os cuidados higiênicos básicos e com dificuldades para dormir e se alimentar. A família passa por dificuldades em se sustentar. Na casa só tem uma cama de casal, por isso dormem a mãe e seu filho. Márcia aparenta raiva e a sua dificuldade em não ter elaborado a separação. Partindo da psicanálise de Winnicott, percebemos a importância do ambiente, influenciando o desenvolvimento psíquico infantil. Cabe a mãe prestar os cuidados que promovem ou dificultam este processo. A mãe é responsável por mediar criança/ambiente. Vemos que a mãe de Pedro, dentro da análise winnicottiana, não é suficientemente boa. Não por falta de cuidados, mas ao contrário, pelo demasiado cuidado dedicado ao filho, não dando espaço para a criação do self. Já o pai, cabe a ele prestar um suporte para que a mãe possa exercer a sua autoridade. No caso de Pedro, falta este equilíbrio entre os polos materno e paterno. A autoridade simbólica não foi partilhada, mas apropriada pela mãe. O processo de desvinculação da criança com seu ambiente, ou seja, a mãe, está sendo prejudicado. Parecido com o estado inicial do desenvolvimento, Pedro encontra-se com uma dependência absoluta da mãe. A mãe suficientemente boa deve atuar ativamente no processo de desenvolvimento, diminuindo gradativamente a interferência sobre a criança na medida que esta se mostra capaz de suportar as falhas e as frustrações. Pedro encontra-se completamente dependente da mãe devido a inferência dela sobre ele. A criança que passa por isto, não consegue suportar a angustia de separação da mãe. Isto pode ser percebido quando o filho vai para a casa do pai. É preciso que a mãe identifique as necessidades da criança para permitir que ela experimente “uma sensação de continuidade da vida e se desenvolver física e psiquicamente de acordo com as suas tendências inatas”.  Este holding permite que a criança encontre pontos de referência estáveis fundamentais para se integrar.


Palavras-chave


psicologia; psicanálise; personalidade; desenvolvimento; afeto;