Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, Vol II (2017)

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Uma perspectiva nietzschiana sobre o uso indiscriminado de medicação psiquiátrica
Odirlei Costa dos Santos, Lara de Oliveira Gomes

Última alteração: 2017-08-28

Resumo


Introdução: O presente resumo busca compreender o uso indiscriminado de medicação psiquiátrica e seus efeitos, evidenciando as possibilidades de enfrentamento, superação de si e afirmação da vida, propostas pela filosofia de Nietzsche.

Metodologia: A pesquisa será exploratória e descritiva, baseando-se em análise documental e bibliográfica.

Discussão: As transformações ao longo da história do pensamento ocidental interferem na construção da subjetividade e na perspectiva atual sobre a vida e o mundo. O contemporâneo é marcado por uma crescente necessidade de consumo. O que a indústria promete é a eliminação da dor, do sofrimento e da angústia, por meio de modelos que definem e polarizam a vida boa e feliz de um lado e a vida patológica e ruim de outro. Com relação à indústria farmacêutica, medicamentos como Ritalina e Rivotril são popularmente conhecidos. Apesar de serem vendidos apenas com prescrição médica, há um crescente aumento no consumo de ambos. A Ritalina ou metilfenidato, da família das anfetaminas, é usada principalmente em crianças, no tratamento do Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o número de caixas de metilfenidato vendidas no Brasil passou de 2,1 milhões em 2010 para 2,6 milhões em 2013. Já o consumo do princípio ativo do Rivotril, o clonazepam (usado no tratamento de crises de ansiedade), em 2015 atingiu 23 milhões de caixas por ano, de acordo com a IMS Health. Para Nietzsche, a busca por modelos e ideais surge na Grécia Antiga, com o pensamento socrático-platônico e permanece na modernidade, através da Ciência, que seria responsável pela solução de todos os problemas. A crítica de Nietzsche se insere justamente contra a negação da vida em nome desses ideais inatingíveis. Um mundo perfeito, uma vida sem dor não são possíveis na realidade. As crianças são um exemplo do que Nietzsche chama de “vontade de potência”. Elas trazem a capacidade de lidar com desafios, a busca por autonomia e toda potência criativa presente na vida. Estão se desenvolvendo numa sociedade em rede, suas habilidades cognitivas não permanecem as mesmas das crianças do século passado. Contudo, elas dão trabalho e medicá-las é a solução encontrada, que demonstra uma dificuldade atual em lidar com o novo. A vida é um campo de forças, uma constante mudança. A angústia e a ansiedade fazem parte dela e nem sempre devem ser consideradas uma doença. Segundo a psicanalista e filósofa Viviane Mosé, o sofrimento é uma oportunidade de expansão e mudança. Em sua principal obra, “Assim Falou Zaratustra”, Nietzsche desenvolve a hipótese filosófica de alegria e aprovação da existência mesmo diante da falta de esperança e descrença no progresso da humanidade.

Resultados: Medicamentos como o Rivotril estão entre os mais vendidos no Brasil. Especialistas alertam para o uso abusivo e desnecessário dessas substâncias, que além de causarem dependência, acabam impedindo um processo natural de maturação diante do sofrimento. As principais ideias presentes na obra de Nietzsche auxiliam na discussão  sobre o problema, visto que possibilitam um novo olhar sobre a história do pensamento ocidental. Alternativas necessárias para a afirmação da vida, estão presentes em conceitos como o “super-homem” (aquele que se supera e se inventa no presente) e o “eterno-retorno” (o desejo pela eternização do instante vivido, dando intensidade a cada momento em que se vive).


Palavras-chave


Medicação psiquiátrica, Psicologia, Filosofia, Rivotril, Ritalina, Nietzsche.