Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, Vol I (2016)

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O caos sonoro: a perda da sensibilidade acústica nas sociedades urbanas
Odirlei Costa Santos

Última alteração: 2016-10-01

Resumo


 

O caos sonoro: a perda da sensibilidade acústica nas sociedades urbanas

 

SANTOS, Odirlei Costa dos.

 

Resumo

 

Objetivo geral: Discussão face à perda da sensibilidade acústica da contemporaneidade e as possibilidades de pesquisa e experimentação do som como elementos capazes de intensificar e superestimular novos níveis emocionais do ouvinte, a partir da formação das imagens auditivas e do estímulo ao imaginário. Metodologia: Pesquisa qualitativa, bibliográfica, descritiva, exploratória e explicativa. Discussão: A atual padronização da programação radiofônica com o sertanejo universitário – ou simplesmente pop sertanejo – encontra como alicerce uma estrutura paradoxal que supostamente fornece alento mental ao ouvinte, ao mesmo tempo em que o integra cada vez mais a uma espécie de crossover de sons e ruídos. O cidadão encontra-se seguro no momento em que se reconhece membro desta ensurdecedora metrópole secular. Cada vez mais o sistema radiofônico procura adequar o ouvinte a um tipo de rádio que sucumbiu ao “guincho monótono” da contemporaneidade, segundo R. Murray Schafer em seu ensaio “Rádio radical”. O excesso de barulho que circunda a atmosfera dos grandes centros urbanos solapou a trilha sonora musical mentalmente estimulante. A ordem geral implica em uma (in)formação que cede espaço à redundância, impelindo a música a dar continuidade ao barulho presente ao redor. O rádio ligado de um carro preso no tráfego, por exemplo, revela uma boa ideia desta necessidade de abafar a poluição sonora indesejada; não obstante, o rádio torna-se parte dela. Doses excessivas de barulho e ruído fomentam ouvintes superficiais e, quando a música do celular não abafa todos esses sons, permanece como pano de fundo, num eterno e desprestigiado background ininterrupto.Toda esta situação condiciona sujeitos de grandes cidades a ignorarem o ambiente sonoro. Os ouvidos acolhem uma série de sons todos os dias, mas são indiferentes aos estímulos sonoros que os atingem. Face ao desejo de reestabelecer a capacidade auditiva em um mundo no qual “a tendência é a de predominantemente não ouvir”, descortina-se um novo papel a partir do qual o produtor musical, ou “audioartista”, revê todos os critérios para a utilização do som. A sociedade urbana vê-se frente a um bombardeio produzido por uma cacofonia de sons e ruídos, que contribuíram para atrofiar o sistema sensorial humano, fazendo com que os “civilizados” perdessem a capacidade de ver, cheirar, saborear, tocar e, sobretudo, de ouvir.  No âmbito da Psicologia, descortina-se a reflexão sobre o potencial do sentido auditivo e sua relação com as vivências afetivas do homem. Observando o comportamento dos cegos e dos surdos, apresenta-se uma diferença a partir da experiência de ambos na comunicação cotidiana. Os cegos são, em sua maioria, mais plácidos e pacientes, enquanto os surdos são geralmente irascíveis e irritadiços. Resultados: A perda do sentido auditivo acarreta uma incômoda impressão do indíviduo estar fora do processo habitual de comunicação, como se houvesse um bloqueio que impedisse a possibilidade de vinculação afetiva com os que estão ao seu redor. O ouvido torna-se o sentido da comunicação por excelência e, a nível neurofisiológico, o órgão mais sensível dentro das construções afetivas do ser humano. Para a Psicologia, o som é uma espécie de experiência que o cérebro extrai do seu meio ambiente. Enquanto o físico volta-se para a energia, o psicólogo busca informações. Por isso, quando alguém tem bom ouvido para música, leia-se que este alguém possui boa mente para música. A percepção auditiva une-se a interpretações e experiências individuais. A relação entre o estímulo sonoro e as reações do sistema nervoso e o consciente é fisiológica, porém subjetiva. Por isso, entra em jogo o processo mental que instaura, em sua interpretação do som, a subjetividade. Os ouvidos não apenas percebem o som mas também o ambiente sonoro circundante, o contexto sonoro de produção e a captação do estímulo provocado. Ainda no tocante à Psicologia, segundo Freud, “a palavra que se grava no pré-consciente é, essencialmente, a palavra ouvida”. Enquanto o inconsciente permanece oculto, o pré-consciente encontra-se ligado a representações verbais. Estas procedem especialmente de percepções acústicas, que destinam ao sistema pré-consciente uma origem sensorial especial. Logo o que se registra na consciência e se grava a nível profundo é o que chega através do ouvido. Outro exemplo da vinculação da audição com a afetividade é uma experiência envolvendo um filme de grande impacto sonoro e visual. Mesmo com a intensidade dos efeitos de luzes e fotografia, o resultado resulta frio quando o filme prescinde de um acompanhamento do som. Mas no momento em que as imagens são retiradas, o som, a música, os diálogos, criam uma recepção mais emotiva. O calor do ouvido determina a comunicação afetiva: os ouvidos sentem, o cérebro traduz sons em sentimentos.

 

Palavras-chave: Sensibilidade acústica; Estímulos sonoros; Imagens auditivas; Psicologia.