Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, Vol I (2016)

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A psicologia sócio-histórica como possibilidade teórica de atuação frente as emergências e desastres
Gabriela Silva Donadoni, Cecília Segheto Reis, Leon Dutra Paiva, Cardoso Lopes Venâncio, Marcos Luiz Teixeira, Ludmila da Silveira Magalhães, Ronaldo Silvério Lopes, Maria Isabel de Lucca Pereira Costa, Patrícia Cecília de Melo Villas Boas, Jefté Morais Souza, Wedne da Silva Santos, Thayna Amorim Carvalho, Cristiane Feixo, Gilsilene Ferreira, Kátia Vargas, Ingrid Galão, Larissa Oliveira, Karla Dutra

Última alteração: 2016-10-01

Resumo


Este texto é o resultado de discussões realizadas por um grupo de alunos em um projeto de extensão que tem por finalidade entender como situações de emergências e desastres se produzem e quais formas de subjetivação, a partir destas experiências, se engendram. As situações de emergências e desastres tem se tornado cada vez mais comuns, sejam elas desastres ambientais como chuvas, terremotos, maremotos, deslizamentos, entre outros, ou situações de emergências, como crises hídricas e alimentares. Nesse contexto, o profissional de psicologia tem sido convocado a participar no cuidado de sujeitos que experienciam essas situações. À luz da proposta da psicologia sócio-histórica, têm-se conduzido reflexões sobre como as situações de emergências e desastres são produzidas, ou seja, parte-se da premissa de que tais situações não acontecem por obra do acaso. Exemplo disso é a permissão para o processo de ocupação do solo urbano não se levando em conta áreas alagadiças ou com possibilidades de desmoronamento. Há ainda descaso com a sustentabilidade demográfica das cidades, o que pode levar a dificuldades de acesso a água potável ou de saneamento básico. Há de se notar também que populações que passam por experiências em emergências e desastres as experienciam mais de uma vez, e são, pois, reincidentes frente ao descaso. Marx (1978) nos diz que todo o processo de produção coloca em movimento, ao mesmo tempo, a possibilidade de mudança de quem produz e do que é produzido, ou seja, quando o espaço é produzido, produzem-se, ao mesmo tempo, os sujeitos que ali habitam. Essa produção é o que permite as constituições históricas e as formações de subjetividade dos sujeitos.

A partir destas análises, que contribuições poderá dar a psicologia? Cabe à psicologia interrogar-se (que fazer?) diante das emergências e desastres. As experiências em emergências e desastres se apresentam ao psicólogo em sua constituição histórica como sínteses de movimentos contraditórios. Uma proposta pertinente de trabalho junto a populações que sofrem situações de emergências e desastres é provocar o espaço necessário para se resgatar a constituição histórica dos territórios a fim de levantar quais as emergências e desastres são recorrentes.

Sabendo-se participantes do processo de constituição histórica dos territórios, é possível modificar as formas de experiências que populações enfrentam frente a tais situações.

Mais do que isso, nesse processo de conhecimento da constituição histórica dos territórios os sujeitos implicados em situações de emergências e desastres podem reconhecer por quais experiências coletivas eles tem passado ao longo de sua história.

O psicólogo poderá ainda provocar a possibilidade de organização comunitária para que as populações atingidas saibam como agir durante uma situação de emergência e desastre, além de permitir que tais populações organizem reivindicações frente aos órgãos responsáveis. Salientamos que as poucas possibilidades levantadas aqui de atuação pelo profissional de psicologia já nos dizem de um modo de funcionamento das situações de emergências e desastres: a recorrência dessas situações, em locais determinados historicamente, indica um processo de exclusão de algumas camadas da população. Poderíamos afirmar, a partir da leitura de Vigotski (2005), que no encontro entre o sujeito singular e a experiência coletiva sentidos têm sido produzidos de forma recorrente. Eles, à primeira vista se nos apresentam como produção de heteronomia frente a situações de emergências e desastres. As produções de emergências e desastres têm sido utilizadas como possibilidades se criarem espaços de exclusão e de assistencialismo baseados em formas de subjetivação heterônomas. Portanto, temos visto nos estudos conduzidos até agora que a psicologia sócio-histórica contribui significativamente com categorias que ampliam as possibilidades de discussões e reflexões no trabalho do psicólogo em situações de emergências e desastres.

 

Palavras-Chave: Psicologia sócio-histórica, Emergência, Desastre.