Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, Vol I (2016)

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ESTUDO COMPARATIVO: o Estado Oligárquico na América Latina do século XIX e a crise democrática do século XX
Raul Carneiro Filho

Última alteração: 2016-10-03

Resumo


Há certas nomenclaturas que nos habituamos a ouvir e falar. Repetimos desde os primeiros tempos de escolarização. Um exemplo claro - e que é o tema deste trabalho - é a expressão "América Latina". Inicialmente, para muitos, soa como outro nome para América do Sul. Na verdade a América dita “Latina” possui uma identidade cultural diversa e difusa. Por muitos é estereotipada e para outros faz parte de um terceiro mundo que até a segunda metade do século XX não representava muito do cenário geopolítico interacional.

Entretanto, as palavras e os rótulos não representam somente ideias ou códigos. Elas traem em si um significado que pode ser ou não a realidade. Quando dissemos América Latina, contextualizamos que nela vive uma população multinacional. Esta parte do continente, do México à Argentina, foi colonizada por Espanha e Portugal, nações latinas que compartilham aspectos culturais semelhantes, entre eles o mais significativo, o idioma originário do Latim. Mas até que ponto esses rótulos possuem alguma verdade histórica?

Vinte países formam a América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Panamá, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela[1]. Existem territórios que não são independentes, portanto não podem ser considerados países, mas, ainda assim, latinos. Reunir duas dezenas de países e coloca-los sob um olhar somente, é rotulá-los de forma equivocada de que todos os latino-americanos são iguais.

Mas será que compartilhamos tal identidade? Talvez a resposta seja negativa. O que tem em comum o Brasil e o Peru? Tais países fizeram partes de colonizadores diferentes, seus imigrantes vieram de variados lugares do planeta, seus “ameríndios” pertenciam a etnias diferentes. Peruanos e brasileiros sequer falam a mesma língua. Mesmo assim, a falsa ideia de uma "América Latina" homogênea continua forte, embora venha enfraquecendo-se a medida que as democracias da região se consolidam.

A desconstrução desta equivalência é o ponto de partida deste trabalho. Pensamos que a ideia de um "bloco latino-americano" é interessante politicamente. Oferece uma ideia de identidade, de oposição à hegemonia ao primeiro mundo, principalmente ao bloco estadunidense e europeu ocidental. Alguns líderes políticos chegaram a levar a sério a ilusão, como o revolucionário Che Guevara, que, vitorioso em Cuba, foi para a outros países propagar a revolução, perfeitamente convencido de que cubano e boliviano, por exemplo, eram semelhantes. Não eram. Não são. Para muitos europeus e norte-americanos, igualmente, a ficção de uma homogênea América Latina “é uma solução conveniente para extirpar estes países terceiro-mundistas do Bloco Ocidental, que assim pode apresentar-se ao mundo como contendo apenas países desenvolvidos”.

Desta forma, buscaremos recortar uma breve história do tempo, relacioná-la com fatos históricos e versões destes fatos para desenhar um cenário geopolítico da América Latina, utilizando o estudo das oligarquias, das revoluções, dos movimentos populares e da recente democratização do subcontinente. É sob este olhar que se Paula o trabalho que segue.