Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, VOL V (2020)

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Estágio na 2ª Delegacia Regional de Polícia Civil - Ubá/MG
Laryssa Gonçalves Sperandio, Bruno Feital Barbosa Motta

Última alteração: 2020-12-08

Resumo


Relatório de estágio supervisionado básico da acadêmica de psicologia Laryssa Gonçalves Sperandio, discente do 8º período sob supervisão do Professor Bruno Feital Barbosa Motta. Este relatório abrange o período de 04/09/2020 a 27/11/2020, com carga horária de 167 horas práticas e 20 horas de supervisão, totalizando 187 horas. Ocorreu no formato presencial na 2ª Delegacia de Polícia Civil com sede na Avenida dos Ex-Combatentes, nº 1.333, bairro Laurindo de Castro na cidade de Ubá/MG.

Objetivo do Estágio: O objetivo do presente estágio é de acolher mulheres vítimas de violência doméstica que vão à Delegacia requerer a Medida Protetiva contra o autor.

Público alvo: O público alvo são mulheres (mães, esposas ou companheiras) que são ou foram agredidas, (fisicamente, psicologicamente, moralmente) ameaçadas ou vítimas de importunação sexual pelo autor, que pode ser o filho, marido ou namorado da vítima.

Práticas, procedimentos e Intervenções: Os acolhimentos foram realizados em uma sala ao lado da sala da Delegada Dra. Deise Lúcia Oliveira Fernandes, responsável pela vara da mulher em Ubá. Nesta sala tinha mesa com cadeira e um sofá para a acolhida e mesa com cadeira e 01 computador para uso de estagiárias da Psicologia.

A vítima ia à Delegacia requerer a Medida Protetiva e a escrivã Ana Paula era a responsável pela oitiva. Em sua sala, eu acompanhava junto a Ana Paula e a vítima a declaração da mesma sobre os fatos. Ao final da oitiva, eu oferecia a vítima o serviço individual de acolhimento em psicologia na sala específica para esse fim. Me expressava claramente quanto o acolhimento ser realizado diante da vontade da mulher em ser acolhida, não fazendo parte de um processo obrigatório após o requerimento da Medida Protetiva.

O trabalho era realizado na tentativa de oferecer suporte psicológico de maneira acolhedora, além de encaminhar as vítimas para as redes de serviços como as Unidades Básicas de Saúde de seus respectivos bairros, bem como ao encaminhamento para os Centros de Referência de Assistência Social. Para cada acolhimento eram traçados meios de encaminhamento às redes específicas para cada demanda apresentada.

Durante o período que transcorreu o estágio tive a oportunidade de acolher mulheres vítimas de violência em diversas construções sociais, seja na relação mãe/filho, esposa/marido e relacionamentos estáveis. Realizei o acolhimento ainda de uma jovem que foi vítima de importunação sexual através das redes sociais.

Alguns acolhimentos que acho válido citar foram de algumas mães que eram vítima de agressões físicas e verbais dos filhos. Pude perceber o quanto é doloroso para uma mãe comparecer à Delegacia para queixar-se do filho para as autoridades, autorizando-as a usarem o poder coercitivo de punição, prendendo o mesmo caso ele se aproxime dela. Isso gera sofrimento àquela mulher, mãe, que muita das vezes em seu relato, queria apenas que o filho parasse de agredi-las. Muitas relataram que só estavam tomando essa atitude – de ir à Delegacia – para dar “um susto” no autor na tentativa de intimidá-lo e fazer com que ele pare.

Outros acolhimentos realizados foram com as vítimas que se separaram de seu companheiro e o mesmo não aceitou o término do relacionamento, se configurando na maioria dos casos. Em alguns, a mulher já possui um novo companheiro e o autor ainda insiste em ameaçá-la, na maioria dos casos era de morte. Outros, a mulher não se sentia preparada para iniciar um novo relacionamento justamente porque teve, como algumas se expressaram, uma “experiência ruim” no passado – se referindo ao agressor. Neste caso, o agressor constantemente ameaçava a mulher na porta de sua residência ou de seu trabalho. Algumas disseram que perderam o emprego por conta disso.

Nas declarações em que os cônjuges tiveram filhos, os relatos se configuram como ainda mais tristes por parte da vítima. A maioria afirma que a criança sofre consequências psicológicas por presenciarem as constantes agressões sofridas pela mãe durante o relacionamento e até mesmo após o término.

Em ambos os casos, as mulheres vítimas de quaisquer tipos de violência sentem medo constante. Medo de o autor agredi-las ou até mesmo matá-las. Sentem vergonha, tanto de estarem na delegacia passando pelo procedimento de denúncia, quanto dos vizinhos que presenciaram as constantes brigas, ameaças e/ou agressões ou parentes que tomam conhecimento dos fatos.

Algumas leituras que possibilitaram o desenvolvimento trabalho foram o livro “Comunicação Não-Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais” para um acolhimento empático e livre de julgamentos, e o livro “Coisa de menina? Uma conversa sobre gênero, sexualidade, maternidade e feminismo”, imprescindível para a compreensão da construção da figura feminina na sociedade.

Diante os fatos expostos, torna-se evidente a necessidade do acolhimento dessas mulheres pautado no referencial teórico que a psicologia fornece, a fim de auxiliá-las a atravessarem esse momento de tamanho sofrimento. O retorno por parte delas foi de agradecimento por ser concedido a elas um espaço onde pudessem falar sem serem julgadas.

Competências e habilidades: O presente estágio me proporcionou avaliar os fenômenos humanos de ordem cognitiva, comportamental e afetiva, no contexto da violência doméstica, além de atuar, inter e multiprofissionalmente e de forma integralizada a partir do encaminhamento para as redes de assistência social e da saúde. Com o acolhimento dessas mulheres vítimas das mais diversas agressões (físicas, morais, psicológicas, verbais, entre outras) foi possível atuar, profissionalmente, em diferentes níveis de ação, de caráter preventivo, terapêutico ou psicoterapêutico, considerando as características das situações e dos problemas específicos de cada uma delas, realizando ainda orientação, aconselhamento psicológico e psicoterapias.

Referências bibliográficas usadas como suporte:

HOMEM, M.; CALLIGARIS, C. Coisa de menina? Uma conversa sobre gênero, sexualidade, maternidade e feminismo. São Paulo: Papirus 7 Mares, 2019.

ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Editora Ágora, 2006. p. 01-113.