Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, VOL V (2020)

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Relatório de Estágio Social Básico- CRAS
Maria Eduarda Silva Cunha, Francesa Stephan Tavares

Última alteração: 2020-12-08

Resumo


Relatório de Estágio

Relatório de estágio supervisionado básico da acadêmica de psicologia Maria Eduarda Silva Cunha, discente do 6° período sob supervisão da Professora Francesa Stephan Tavares.

Este relatório abrange o período de 10 de agosto de 2020 a 30 de dezembro de 2020, com carga horária total de 60 horas, sendo 20 horas de práticas em campo, 20 horas de estudo e 20 horas de supervisão e ocorreu no formato Presencial – CRAS Vila Casal.

Objetivo do Estágio: Oferecer ao discente a experiência de atuação nos CRAS (Centros de Referência em Assistência Social) do município de Ubá.

Público alvo: Usuários e profissionais do CRAS (CRAS- Vila Casal).

Práticas, procedimentos e Intervenções: A COVID-19 trouxe impacto nas vidas dos indivíduos em nível global, chamando a atenção pelo alcance que teve e pela velocidade com a qual se disseminou (Souza,2020).  No entanto, foram liberadas algumas vagas de estágios presenciais em alguns CRAS na cidade de Ubá. As horas de estágios foram reduzidas, sendo apenas 20 horas de práticas em campo, uma vez por semana, com duração de 4 horas, no CRAS Vila Casal. O Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) é a porta de entrada dos usuários da política de assistência social, das famílias que buscam acesso aos direitos socioassistenciais e, portanto, proteção social. Por meio do trabalho de uma equipe profissional, o CRAS desempenha papel central no território onde está localizado. (Koelzer, Backes & Zanella, 2014)

No primeiro encontro fui apresentada aos funcionários pela psicóloga do local e a localidade o qual o CRAS reside. Observei que este se dá em uma quadra de futebol com apenas alguns cômodos, separados entre recepção, cozinha, secretaria, sala da assistente social e sala da psicóloga, tudo muito simples. Reparei também que a decoração tinha alguns feitos de oficinas passadas. A Psicóloga me explicou um pouco sobre o funcionamento do CRAS e a população o qual abrange, me mostrou alguns arquivos, alguns materiais feitos os quais estavam sendo entregues para as famílias durantes este período de pandemia e me indicou algumas leituras. Contudo, ela falou que por estarmos em um contexto delicado, as atividades foram suspensas, as demandas foram reduzidas e que não teria muito para se fazer. As visitas técnicas não estavam acontecendo porque a assistente social tinha tirado licença, mas que assim que voltasse entrariam em contato comigo.

Depois de mais ou menos quase um mês, a psicóloga me ligou para avisar que a visita técnica estava agendada e se eu tinha interesse em ir, combinamos um horário e a visita foi realizada, junto a assistente social.  Foram visitadas 5 famílias diferentes, todas em situações de risco e vulnerabilidade. De acordo com a PNAS/2004, vulnerabilidade e risco são situações que decorrem de: perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e/ou no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social (Cruz, 2009). Uma dessas visitas me chamou a atenção após o relato de uma vizinha sobre uma família negligente.  Esta relatou que a residente da casa usava a residência como local de prostituição, uso e venda de drogas ilícitas. A residente teria um marido o qual estava preso e a deixou com duas crianças pequenas, passando necessidades. A vizinha ainda conta que a mulher saia e deixava seus filhos em casa sozinhos, eles desciam as escadas e batiam na porta da casa dessa vizinha chorando por estarem com fome e com medo. Vendo toda essa situação e se sentindo incomodada, a vizinha (dona da casa aonde a mulher morava) resolveu pedir a casa de volta, fazendo com que essa mulher se mudasse para a casa da mãe no bairro Primavera. A Sociedade Brasileira de Pediatria (2001) menciona que a identificação da negligência no nosso meio é complexa devido às dificuldades sócio-econômicas da população, o que leva ao questionamento da existência de intencionalidade. No entanto, independente da culpabilidade do responsável pelos cuidados da vítima, é necessária uma atitude de proteção em relação a esta.

No encontro seguinte, a psicóloga me pediu ajuda em uma tabela sobre Psicologia Positiva. Ela me explicou um pouco sobre essa Psicologia e pediu para que eu lesse o capítulo do livro para melhor compreender. A importância da Psicologia Positiva, faz-se necessária uma maior compreensão sobre o tema. Esse novo ramo da Psicologia pode ser definido como o estudo científico de emoções positivas, forças e virtudes humanas (Bacon, 2005; Seligman & Csikszentmihalyi, 2000; Sheldon & King, 2001)

Durante os outros encontros foram ditos que algumas atividades iriam voltar e que eu auxiliaria a coordenadora, porém enquanto não voltassem eu poderia ficar na parte administrativa, para que assim apenas cumprisse horas. No entanto, foram chamadas outras pessoas exatamente para cumprir essas funções e acabou que quase não tive a oportunidade de ajudar, para não gerar qualquer tipo aglomeração. Quando as atividades voltaram a coordenadora falou que não precisaria da minha ajuda e que se eu tivesse cumprido as minhas horas estaria liberada, pois aquelas atividades não estariam ligadas a psicologia. Já a psicóloga também afirmou que não teria nada a qual eu pudesse auxiliar, pois ela estaria apenas fazendo atendimentos individualizado, o qual eu não poderia participar. Observei que ambas estavam jogando essa responsabilidade uma para outra. Diante disso, é notório que psicólogos graduados muitas vezes querem reproduzir a prática psicoterapêutica, um olhar clinico em ambientes como o CRAS e esquecem de olhar a verdadeira demanda da população.

No último encontro, foi apenas um momento de despedida. A psicóloga me convidou a voltar em outras oportunidades, e fazer o estágio novamente em um outro contexto, o qual não exista pandemia, pois assim terei mais oportunidades de conhecimentos e práticas.

Competências e habilidades: A analisar o campo de atuação profissional e seus desafios contemporâneos; analisar o contexto em que atua profissionalmente em suas dimensões institucional e organizacional, explicitando a dinâmica das interações entre os seus agentes sociais; avaliar fenômenos humanos de ordem cognitiva, comportamental e afetiva, em diferentes contextos; coordenar e manejar processos grupais, considerando as diferenças individuais e socioculturais dos seus membros; atuar, inter e multiprofissionalmente e de forma integralizada, sempre que a compreensão dos processos e fenômenos envolvidos assim o recomendar e; relacionar-se com o outro de modo a propiciar o desenvolvimento de vínculos interpessoais requeridos na sua atuação profissional. Analisar a diversidade teórico-prática da Psicologia, compreendendo as teorizações mais apropriadas para a atuação do/a psicólogo/a social, compreendendo suas bases epistemológicas e metodológicas; refletir e considerar sua responsabilidade, enquanto estagiário/a, na divulgação da prática do psicólogo/a social, reconhecendo suas competências e limitações na prática institucional, reconhecendo a necessidade de supervisão, autocuidado e educação permanente.

Referências bibliográficas usadas como suporte:

  • SOUZA, D.O (2020) A pandemia de covid-19 para além das Ciências da Saúde: reflexões sobre sua determinação social. Ciênc. Saúde coletiva vol.25 supl.1 Rio de Janeiro jun 2020 Epub 05 jun

 

  • KOELZER, L.P.; BACKES, M.S & ZANELLA, A.V. (2014) Psicologia e CRAS: Reflexões a partir de uma experiência de estágio. Gerais, Ver. Interinst Psicol. Vol 7 n°1 Juiz de Fora jun.

 

  • CRUZ, J. M.O. (2009) Práticas Psicológicas em Centro de Referência da Assistência Social. Psicologia & foco, vol 2 (1). Jan/ jun

 

  • Sociedade Brasileira de Pediatria (2001) Guia de atuação frente a maus tratos na infância e na adolescência. 2° ed. Rio de Janeiro, Claves.

 

  • PASSARELI, P.M.; SILVA, J.A. Psicologia Positiva e o estudo do bem-estar subjetivo. Estudos de Psicologia, vol.24, num 4, octubre- deciembre, 2007, pp. 513-517 Campinas, Brasil

 

  • Bacon, S. F. (2005). Positive psychology’s two cultures. Review of General Psychology, 9 (2), 181-192.

 

  • Seligman, M. E. P., & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: an introduction. American Psychologist, 55 (1), 5-14

 

  • Sheldon, K. M., & King, L. (2001). Why positive psychology is necessary. American Psychologist, 56 (3), 216-217