Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, VOL V (2020)

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Um olhar sobre o trabalho de psicologia social dentro do Lar João de Freitas
Roberta Adriana Silva Martins Andrade, Francesca Stephan Tavares

Última alteração: 2020-12-08

Resumo


Relatório de estágio supervisionado básico na área de Psicologia Social, do(a) acadêmico(a) de psicologia Roberta Adriana Silva Martins Andrade, discente do 10º período, sob supervisão do(a) Professor(a) Francesca Stephan Tavares. Este relatório abrange o período de 10/08/2020 a 30/11/2020 com carga horária total de 80 horas e ocorreu no formato remoto. Objetivo do Geral: Observar as atuais condições das moradoras do Lar João de Freitas na cidade de Ubá, pontuando como o setor de psicologia pode melhorar o bem-estar das usuárias desta instituição de longa permanência. Público Alvo: Moradoras do Lar João de Freitas, trabalhadores do Lar João de Freitas, futuros alunos de psicologia que venham a estagiar no local. Práticas, procedimentos e Intervenções: O presente trabalho foi feito com base em algumas solicitações dos coordenadores do Lar João de Freitas referentes a um alinhamento dos trabalhos feitos pelos estagiários de psicologia com demandas apresentadas pela casa, através de suas usuárias. A maior parte do trabalho foi feito a distância devido a situação da pandemia de covid-19 e em medida de restrição de contato com as moradoras que fazem parte do grupo de risco. As visitas feitas ao Lar seguiram as medidas de segurança contra covid-19 bem como as regras de segurança estipuladas pela instituição. O trabalho consistiu de pesquisa da situação atual da casa/lar, levantamento de demandas, e comparativo da situação atual com a do ano de 2017, quando a presente discente estagiou no lar, e também em relação a 2018 e 2019 quando a discente fez visitas voluntárias a instituição. A instituição atende apenas mulheres e atualmente conta com 13 moradoras. O perfil das usuárias da casa é de maior debilidade, necessitando em sua maioria de cuidados especiais. A equipe é composta por enfermeiras, fisioterapeuta, cuidadoras e ajudantes nas áreas de cozinha e limpeza. A entidade não possui psicólogo contratado atuando. Na visita técnica ao espaço, foi possível ver inúmeras melhorias feitas de 2017 em diante. Foram construídas salas para a fisioterapia, assistência social e almoxarifado. Melhoria na acessibilidade, rampas, corrimãos e outros. Banheiro e vestiário para funcionários. Também está sendo construída uma pequena sala de enfermagem e outras dependências. Os quartos são bem arejados e iluminados, possuem ventiladores, câmeras e telas protetoras nas janelas. Móveis e roupas de cama são conservados e limpos. O local tem sala de tv, área de convivência e refeitório. A cozinha é limpa, organizada e as funcionárias uniformizadas. Em 2017 todas as tardes, a casa era aberta à visitação. Hoje, devido a pandemia, apenas familiares podem visitar uma vez ao mês, na varanda da casa, com uso de álcool e máscara. As visitas são agendadas e tem tempo curto de duração, nunca sendo agendado mais de uma família por vez. Antes da pandemia a casa era muito movimentada e as moradoras recebiam todo tipo de visita. Pessoas comuns que iam para conversar, prestadores de serviços voluntários como cabeleireiro, manicure etc. Estagiários e profissionais de saúde como psicólogos, dentistas e outros. Artistas que levavam intervenções para alegrar a casa. Crianças da Creche Irtes Terezinha que fica ao lado. Deste modo as moradoras se mostram bem frustradas e abaladas com o isolamento. As que já não recebiam visitas de parentes, só tinham este contato com o mundo externo, então o isolamento gera bastante impacto emocional. Trabalhadores da casa relatam perceber que algumas se mostram mais abaladas e deprimidas e outras mais irritadas. As reclamações de dores crônicas tem sido mais intensas, o que pode denotar somatização. Além da questão do covid-19, ao longo destes 3 anos a casa perdeu várias moradoras. Obviamente estes óbitos também geram impacto emocional nas parceiras de moradia. Também é possível perceber, que apesar da casa oferecer ótimas condições de moradia e toda a assistência necessária, alguns quadros físicos e psíquicos evoluem com certa rapidez. A direção da casa relata que as moradoras recebiam bem as intervenções de psicologia, sendo as intervenções com o uso de arte as que tiveram melhores resultados, em especial o uso de música, mas também pintura e outras. Para chegar a intervenção de arte proposta em 2017, foram realizadas pesquisas sobre psicologia social, psicologia para a terceira idade e também sobre a questão específica das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI). Com base nos dados colhidos no período observacional do estágio, o foco definido para intervenção foi a promoção do lazer. No artigo “O lazer na terceira idade e sua contribuição para uma melhor qualidade de vida: um estudo com idosos institucionalizados”, encontramos a seguinte citação: “Observa-se nos idosos residentes em Instituição de Longa Permanência Para Idosos (ILPI), pouca oferta de atividades e terapias e com isso, a presença de expressões tristes, apáticas, pensativas, literalmente sem distrações, o que dificulta a prática do cuidado com os mesmos”. (OLIVEIRA; ROZENDO, 2014 apud NOGUEIRA; MARTINS, 2017). Sobre esta colocação, é possível dizer que no caso específico do Lar João de Freitas, não foram observadas expressões de tristeza ou apatia, no entanto, foi possível perceber em alguns momentos um certo tédio apesar da boa relação das moradoras entre si, e também destas com a equipe de trabalho. Focando na importância do lazer enquanto produtor de bem-estar, aliado a dinâmicas que desenvolvam a cognição, várias atividades foram propostas durante o estágio: jogos de tabuleiro, jogos de palavras interativos, jogo da memória e desenhos. Tendo no final uma intervenção artística unido teatro e música com resgate de cantigas de roda e ciranda. As moradoras receberam muito bem a intervenção, assim como recebiam bem atividades do gênero propostas por visitantes e voluntários. Hoje em 2020, a casa continua a enxergar este tipo de atividade com eficácia e relevância, e entende que intervenções de psicologia social, não trazem inicialmente um atendimento clínico individualizado, no entanto, a casa solicita, abordagens mais específicas com algumas moradoras que tem esta demanda. Após análise da situação da casa, das moradoras e da evolução dos quadros de 2017 até aqui, ficou demonstrado que a inserção de acolhimentos na linha de terapia breve ou outras podem ser pertinentes. Também é interessante que os estagiários, ainda que tenham como objetivo geral ações coletivas, conheçam a história de cada moradora na visita diagnóstico, e criem algumas intervenções específicas de acordo com suas demandas. Outro ponto interessante é a mediação de conflitos e necessidades das moradoras. A exemplo uma moradora nova que é deficiente visual e não está se adaptando a casa e está sem autonomia, o que a tem deprimido muito. Criar algum método de facilitar sua movimentação pela casa seria muito interessante, o que poderia ser realizado numa parceria entre estagiário, fisioterapeuta e enfermeira. É interessante que os novos estagiários façam uma primeira visita de observação para então traçar suas intervenções, de modo que sejam alinhados, objetivo acadêmico, necessidades da casa e principalmente, necessidades das moradoras. Há um certo impasse com relação a dados das moradoras. As condições médicas das mesmas, são muito bem organizadas nos prontuários, porém, informações neuropatológicas e psicológicas são extremamente escassas, o que exige uma observação maior por parte dos estagiários de acordo com os quadros apresentados. Como análise geral, fica a sugestão de maior alinhamento entre as propostas de intervenção de estagiários de psicologia e as necessidades da casa, visto que ainda que a casa tenha melhorado muito sua infraestrutura nos últimos três anos, o próprio fator de envelhecimento e agora o do isolamento social, faz com que as moradoras apresentem cada vez mais demandas na área da saúde mental. Habilidades e Competências: No presente estágio foi possível analisar a Psicologia Social e seus desafios contemporâneos, observando seus campos de atuação, dinâmicas e interações entre seus agentes sociais. Analisar contextos em suas dimensões institucional e organizacional, explicitando a dinâmica das interações entre os seus agentes sociais. Realizar diagnóstico e avaliação de processos psicológicos de indivíduos, de grupos, de organizações e comunidades. Coordenar e manejar processos grupais, considerando as diferenças individuais e socioculturais dos seus membros. Foi possível avaliar fenômenos humanos de ordem cognitiva, comportamental e afetiva, em diferentes contextos, identificando e analisando necessidades de natureza psicológica, agindo de forma coerente com as características da população-alvo. Realizar avaliação de processos psicológicos de indivíduos, e atuar em diferentes níveis de ação, de caráter preventivo, terapêutico ou psicoterapêutico, considerando as características das situações e dos problemas específicos com os quais se depara. Buscar e usar o conhecimento científico necessário à atuação profissional, assim como gerar conhecimento a partir da prática profissional. Referências: NOGUEIRA, Wilson Batista Soares; MARTINS, Clebio Dean., 2017- O lazer na terceira idade e sua contribuição para uma melhor qualidade de vida: um estudo com idosos institucionalizados, Revista Brasileira de Ciências da Vida, [S.l.], v. 5, n. 2, jul.