Sistema Eletrónico de Administração de Conferências, VOL V (2020)

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Relatório de estágio supervisionado básico da acadêmica de psicologia Tamira Teixeira do Carmo, discente do 8º período sob supervisão da Professora Pedrita Reis Vargas Paulino.
Tamira Teixeira do Carmo, Pedrita Reis Vargas Paulino

Última alteração: 2020-12-07

Resumo


Este relatório abrange o período de 04 (quatro) de setembro de 2020 (dois mil e vinte) a 18 (dezoito) de dezembro de 2020 (dois mil e vinte), com carga horária total de 150 horas (incluindo horas de campo, de estudo e supervisão) e ocorreu no formato presencial na Unidade Básica de Saúde (UBS) Prefeito Dr. André Carlos Ferreira Xavier, localizada na Rua Maria de Aguiar, nº145, Bairro João Gonçalves da Neiva, Piraúba-MG.

 

Objetivo do Estágio: realizar atendimentos clínicos de psicoterapia.

 

Público alvo: pacientes da Unidade Básica de Saúde (UBS) Prefeito Dr. André Carlos Ferreira Xavier, Piraúba-MG.

 

Práticas, procedimentos e Intervenções:

Este estágio tinha o intuito de garantir que eu discente de psicologia através da clínica-escola tivesse a oportunidade de colocar em prática o meu conhecimento adquirido por meio da teoria durante o percurso do curso.

O objetivo das clínicas-escola é ofertar treinamento aos alunos, através da aplicação dos conteúdos que os mesmos adquiriram em sala de aula, contribuindo assim para que se tornem profissionais altamente habilitados e capazes de ofertarem o atendimento psicológico em conformidade com as novas demandas que surgirem, contextos sociais, políticos e culturais. Além do mais, trata-se de um serviço de tamanha importância, pois, através dele é possível que a população considerada desfavorecida economicamente tenha a possibilidade de ter acesso a este de forma gratuita ou a baixo custo financeiro (PERES, SANTOS, COELHO, 2003).

Antes de iniciar o estágio eu fui até ao local para conversar com a enfermeira chefe da Unidade e ter acesso a informações necessárias antes de ir a campo. Ela me apresentou a lista de espera dos pacientes que aguardavam para começarem a fazer psicoterapia e especificou quais seriam escalados para que eu ofertasse o atendimento. Neste dia ela me informou que eu ficaria responsável por realizar os atendimentos todas as sextas-feiras no período de 7:00h às 11:00h.

Após esse primeiro contato eu recebi em mãos quais seriam os meus primeiros pacientes, ao qual foram 04 (quatro) mulheres, sendo uma idosa de 72 (setenta e dois) anos, uma de 77 (setenta e sete) anos e 02 adultas, ambas de 28 (vinte e oito) anos. A de 72 anos realizou 03 (três) atendimentos e por motivos de faltas perdeu a vaga, a de 77 anos após 03 (três) atendimentos por motivos relacionados ao seu quadro de saúde não pode dar continuidade, uma de 28 anos após 02 (dois) atendimentos precisou encerrar devido ao trabalho que a impossibilitou de ir e a outra apenas não retornou, motivos desconhecidos. Após a desistência ou a perca da vaga, eu entrava em contato com a enfermeira chefe e os agentes de saúde e eles agendavam um novo paciente.

E no atual momento estou acompanhando 04 (quatro) novas pacientes, sendo uma mulher de 56 (cinquenta e seis) anos, uma de 66 (sessenta e seis) anos e 02 (duas) de 17 (dezessete) anos, ao qual logo adiante irei fazer um breve relato de seus casos.

Em ambos os primeiros atendimentos foi informado o tempo de duração de cada sessão, sendo de 50 minutos cada, as normas da instituição, como avisar as faltas com antecedência, sobre 02 (duas) faltas consecutivas resultarem na perda da vaga e da importância da permanência para se obter um bom resultado. Neste primeiro contato também era realizado uma entrevista inicial para saber quais os motivos que ocasionaram na busca pela ajuda psicológica.

A entrevista psicológica é uma das técnicas que possibilita a interação paciente-terapeuta, ao qual através da comunicação e observação busca elucidar a história de vida deste sujeito, suas vivências e a maneira com o qual lida com elas. Ela possibilita ao terapeuta acessar esse sujeito de forma ampla e profunda e é um método utilizado para coletar informações (ALMEIDA, 2004).

Após essa primeira entrevista inicial, realizar esse primeiro contato, observar e obter informações era possível se fazer a avaliação do caso, identificar as demandas do sujeito e realizar um tratamento mais focal.

A paciente Marta (nome fictício) de 56 anos ao iniciar o seu tratamento queixou-se de estar se sentindo sem ânimo ultimamente, com a fala meio desorganizada e apresentando medo de forma generalizada. Ela havia passado por um trauma a aproximadamente 02 (dois) anos, sendo este, um raio que atingiu sua casa e lhe acarretou fobia de chuva. Tinha dificuldades para se relacionar com os familiares e lembranças ruins de seu primeiro relacionamento, pois, o mesmo a agredia e não contribuiu na criação do casal de filhos que tiveram. Por fim também estava sofrendo tentando recorrer ao benefício do INSS que ela possuía devido ao seu quadro de saúde e perdeu recentemente. Ela iniciou a psicoterapia dia 11/09/2020, já passou por um total de 10 (dez) sessões, ao qual nas próximas 03 (três) irei prepara-la para a finalização, ao qual será dia 18/12/2020.

A paciente Ângela (nome fictício) de 66 anos chegou queixando-se de dificuldades para dormir, indisposição, se sentindo isolada e com dores no peito. Ela e o filho possuem uma empresa ao qual pertence aos dois, porém com o início da pandemia (COVID-19) ela precisou se afastar do mesmo para não prejudicar o negócio, pois, sua idade é considerada um fator de risco. A mesma mora sozinha e estava sentindo a falta dos filhos, sendo um casal, ambos casados, diante do fato de não irem a visitar. Outra queixa abordada foi sobre a dificuldade que vem apresentando por estar gostando de um homem, com quem vem conversando a algum tempo, sendo este mais novo que ela e por isso teme que seja julgada pelas pessoas da sua igreja e que o mesmo futuramente venha a abandona-la ou decepciona-la e por esse motivo ainda não se permitiu conhece-lo pessoalmente. Ela iniciou a psicoterapia dia 13/10/2020 e já realizou um total de 06 (seis) sessões e nas próximas 03 (três) irei começar a prepara-la para a finalização no dia 18/12/2020.

A paciente Camila (nome fictício) de 17 anos se queixou que estava a mais ou menos 03 (três) meses tendo dificuldades para dormir, se alimentando de forma excessiva, com vontade de chorar a maior parte do dia, sem desejo de sair de casa, pensamentos negativos relacionados a morte, como se a qualquer momento algo ruim fosse lhe acontecer, colocando sua vida em risco. Estes sintomas surgiram após o término de seu relacionamento, ao qual tinha um total de 02 (dois) anos de duração. Ela se sentia revoltada por ele não ter vindo pessoalmente finalizar a relação e por ter descoberto que ele vinha a traindo. Outra queixa relatada era sobre a sua dificuldade para expressar seus sentimentos. Ela iniciou a psicoterapia no dia 16/10/2020, totalizando já 06 (seis) sessões e nas próximas 03 (três) irei prepara-la para o encerramento dia 18/12/2020.

A paciente Laura (nome fictício) de 17 anos chegou se queixando de dificuldades para dormir, dor no peito, crises recorrentes de ansiedade e um total de 23 tentativas de suicídio, sendo a última delas a um ano atrás. Ela alegou que quando tinha 12 (doze) anos de idade seus pais se separaram e que isso a afetou muito, pois, os mesmos a colocava contra o outro a deixando dividida. Ela relatou que era evangélica e que por causa das tentativas de suicídio começou a ser julgada pelas pessoas que frequentavam a mesma igreja que ela e por isso acabou se afastando da religião. Ela sente revolta dos pais e julga as atitudes dos mesmos, além de acreditar que eles não gostam dela, diante do fato que é fruto de uma gestação não planejada. A mesma informou que quando criança era recorrente presenciar o pai agredir a sua mãe e que na época da separação sofreu muito, o que acabou acarretando em uma depressão e de lá em diante sua vida não foi mais a mesma. Ela começou a trabalhar e por esse motivo não está conseguindo ir com frequência, por isso não será possível realizar um trabalho promissor, diante que ela passou por apenas 02 (dois) sessões e dia 18/12/2020 será o dia em que irei encerrar os meus atendimentos no local.

E na prática ao realizar esses atendimentos precisei utilizar algumas técnicas como suporte e dentre elas uma que utilizei bastante foi a técnica da Psicoeducação. De acordo com Lemes e Neto (2017, p. 18 apud BHATTACHARJEE et al., 2011):

 

[...] a psicoeducação propiciou uma maneira de auxiliar o tratamento das doenças mentais a partir das mudanças comportamentais, sociais e emocionais cujo trabalho permite a prevenção na saúde. Dessa forma, a psicoterapia iniciou um processo de ter um caráter também educativo tanto para o paciente quanto para seus cuidadores cujo objetivo é ensiná-los sobre o seu tratamento psicoterápico para que possam ter consciência e preparo para lidar com as mudanças a partir de estratégias de enfrentamento, fortalecimento da comunicação e da adaptação [...].

 

Outro recurso que também utilizei bastante foi a metáfora, tratando-se de um elemento linguístico ao qual trabalhamos com uma fala mais voltada para o sentido figurado, podendo este ser uma palavra ou expressão, sendo, portanto, figuras de linguagem e que buscam realizar um tipo de comparação, porém de forma lúdica (TRAJANO, GONÇALVES, 2020). O fato é que utilizei mais de uma, porém irei citar uma, sendo a do filtro, que possui a função de filtrar e eliminar as substâncias impuras, e através disso fazendo uma relação de que nós seres humanos também precisamos realizar uma filtragem em nossas vidas, analisando o que nos cabe permitir que fique e o que nos cabe eliminar.

Também trabalhei com reestruturação cognitiva, ao qual busca aplicar habilidades que permita ao indivíduo solucionar problemas, alterando pensamentos e crenças disfuncionais, que geram ansiedade no mesmo. A alteração destes é realizada através de questionamentos em relação a esses pensamentos, de forma que se faça uma interpretação de forma mais racional do evento, ou seja, buscando fazer novas interpretações.  E para se trabalhar essa técnica, é preciso antes se identificar os erros cógnitos do indivíduo, sendo este um julgamento ou equivoco apresentado ao se avaliar. E dentre esses erros cognitivos podemos citar a catastrofização, leitura mental e a generalização (OLIVEIRA, 2011).

A catastrofização é o sujeito antecipar de forma negativa o que pode vir a lhe ocorrer futuramente. A leitura mental é pensar que ele sabe os pensamentos e intenções dos outros ou ao contrário, estes sabem os seus, mesmo não tendo evidências que lhe comprovem. E por fim a generalização é se fazer uso de um evento negativo que ocorreu em sua vida como base para os demais (OLIVEIRA, 2011).

 

Competências e habilidades:

 

Atuar nesse campo me possibilitou analisar melhor este campo de atuação profissional e através dele identificar os desafios advindos dele. Foi possível descrever, analisar e interpretar manifestações tanto verbais quanto não verbais como fontes primárias de acesso a estados subjetivos, como também relacionar me com o outro e desenvolver vínculos interpessoais requeridos na minha atuação como profissional. Diante do mesmo também avaliei fenômenos humanos de ordem cognitiva, comportamental e afetiva, em diferentes contextos. E por fim elaborar relatos científicos, pareceres técnicos, laudos e outras comunicações profissionais, inclusive material de divulgação.

Referências bibliográficas usadas como suporte:

DE ALMEIDA, Nemésio Vieira. A entrevista psicológica como um processo dinâmico e criativo. Psic., São Paulo, v. 5, n. 1, p. 34-39, jun.  2004.   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-73142004000100005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 28 nov.  2020.

 

LEMES, Carina Belomé; ONDERE NETO, Jorge. Aplicações da psicoeducação no contexto da saúde. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 25, n. 1, p. 17-28, mar.  2017.   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2017000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 28 nov.  2020.  http://dx.doi.org/10.9788/TP2017.1-02.

 

OLIVEIRA, Maria Ines Santana de. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de ansiedade: relato de caso. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 30-34, jun.  2011.   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872011000100006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 29 nov.  2020.

 

PERES, Rodrigo Sanches; SANTOS, Manoel Antônio dos; COELHO, Heidi Miriam Bertolucci. Atendimento psicológico a estudantes universitários: considerações acerca de uma experiência em clínica-escola. Estud. psicol. (Campinas), Campinas, v. 20, n. 3, p. 47-57, dez.  2003.   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2003000300004&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 28 nov.  2020.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2003000300004.

 

TRAJANO, Mariana Peres; GONCALVES, Monica Duarte Da Silva. O uso de metáforas com um adolescente em processo psicoterapêutico familiar. Nova perspect. sist., São Paulo, v. 29, n. 67, p. 23-40, ago.  2020.   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-78412020000200003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 28 nov.  2020.  http://dx.doi.org/10.38034/nps.v29i67.517.